CASAMENTO
NO SERTÃO
Faz tanto tempo que eu não sei bem o que
escrevi, como também não sei a regra usado para o cordel, acho que não tem
estilo, mas existe alguma musicalidade, tendo também com certeza uma Influência de CUNFISSÃO DE CABÔCO, claro que sem de longe
parecer, pois quem sofre Influência é porque está bem atrás daquilo que foi influenciado.
Foi
um dia de são nunca
Foi
um dia do senhor
Foi
uma festa de arromba
Lá
na casa do Antenor
Era
que naquele dia
Com
festança e bebedeira
Ia
se casar Maria
Fulor
daquela ribeira
Morena
forte e dengosa
Que
ia realizar a introsa
Com
o cabra Chico da Dosa.
Morreu
boi, morreu galinha
Pato,
peru e um capão
Mataram
inté Ludovico
O
bode de instimação.
Avia!
Anda ligeiro
Perguntava
seu Antenor
Lavaram
aquele urinor
Que
é pro Santo Monsenhor?
Era
na realidade
Uma
grande confusão
Pouca
gente se entendia
Lá
naquela ocasião
Mas
era muito alegria
Pois,
todo povo sabia
Que
ia se casar Maria.
Josefa
a dona da casa
Lutava
gritando a fia
Me
ajuda com esta panela
Traz
a lenha atiça o fogo
Se
não a panela esfria.
La
fora bem o aceiro
Armaram
toda bebida
Aluá,
garapa doida
E
uma tal de batida
Cachaça,
conhaque e cinzando
E
inté um vim de mesa
Pra
agradar qualquer fulano.
Chico
da Dosa já no pulume
Pulava
pra todo lado
Apertava
a mão de um
Com
outro sai abraçado
E
feliz ele dizia
Todo
prosa e humorado
Ah!
Meu povo que alegria
Como
é bom ser de Maria.
Já
fazia muito tempo
Tá
o sol já levantado
E
tudo estava no prume
Prume
casamento esperado
Pois,
comida e bebida
Era
coisa pra doutor
E
a fartura ali reinava
Na
casa do Antenor.
Muié
pelo amor de Deus
Deixa
de agoniação
Cumpade
Chico não custa
Com
sua esfamiação
Vem
ité a aleijadinha
Em
rima do caminhão.
Ouvi
inté falar por ai
Que
vem um tal de culetor (Gildo Pai do Tenório)
Das
bandas do Tamboril
E
que canta com muito amor
E
recita muito bem
E
dizem até que é Doutor.
Mais
gente vinha chegando
E
o terreiro foi se alargando
E
reinava confusão
Na
passagem do corredor
E
a alegria que era grande
De
repente esfriou
Quando
o Pugão já melado
Gritou
a todo vapor
Minha
gente já tá tarde
E
não chega o Monsenhor.
Antenor,
Zefa e Chico da Dosa
Olharam
um para outro
Sem
saber o que dizer
E se o Padre não viesse
Pro
casamento fazer
E
agora pensava o Chico
Mas
foi só um pensamento
Pois,
Maria era descente
Não
era justo querer!
Tenho
certeza Zefinha
Disse
a irmã Maria Rosário
Foi
o diacho daquele burro
Quer
derrubou seu vigário
Também
o Antenor é doido
De
mandar aquele animal
Que
se acoa no terreio
E pula
qualquer quintal.
Ai!
Meu Deus coitado dele
E
com certeza vai zangar
E
vai dizer no sermão
Que
foi só pra chatiar
Aquele
burro danisco
Pru
mode lhe derrubar.
Parecia
bicho em bicheira
As
cabeças espiando pro caminho
Até
a noiva Maria
Promessa
já tinha feito
E
de oi oiava o Chico
Cuma
quem tá sem jeito
Será!
E tudo desfeito?
Antenor
não tinha estambo
Pra
aguentar tal falaça
Por
isso foi no boteco
E
sem qualquer embaraça
Meteu
três tiros nos peitos
Da
pura e braba cachaça.
Inté
a dona Zefinha
Que
era pia e rezadeira
Arregaçõu
um cinzano
Por
riba da cabeceira
Meteu
de goela adento
Tossiu
e disse num tento
Tenha
calma minha gente.
Pois,
não é que dona Zefa
Estava
com a razão
Apontou
lá no Horizonte
Duas
burras e um alasão
E
de longe reconheceram
O
monsenhor Capelão.
Ai
sim via alegria
Que
há muito tempo eu não via
E
aproveitando o momento
Que
todos não espiavam
Chico
abraçou Maria
E
dona Zefa correu
E
pasta foi comer
Pra
quando tomar a benção ao padre
O
bafo não aparecer.
fizeram
ligeira a roda
Para
o Padre receber
Os
foguetes pipocavam
De
fazer velho tremer
E
o Monsenhor sorridente
Acenava
com a mão
Aberto
numa pureza
Ao
lado do sacristão.
Bom
dia dona Zefinha
Como
vai seu Antenor
Cadê
os noivos da casa
Pra
apresentar meu louvor?
Maria
avia vem logo
O
Monsenhor quer te ver
Trás
madrinha Socorro Paiva
Pro
mode ele conhecer.
Anda
logo menina
Deixa
de barafusa
O
povo tá com fome
Olha
a cara do Cazuza.
O arta
apreparado
Infeitado
de fulor
Monsenhor
olhou e disse
Que
belo seu Antenor!
Minha
gente tá na hora
De
fazer o ajuntamento
Chamem
os noivo pro altar
Pra
fazer o juramento.
E
foi ai que o poeta
Chorou
no verso a emoção
Subiu
a serra das fadas
E
se deitou num coração
Cantou
o amor que via
Na
pureza de uma mãe
Regeu
o coro dos anjos
Pra
entrada de Maria.
Vinha
linda que beleza
Montada
em raio de esplendor
Tal
qual acordes de lira
Da
orquestra do Senhor.
Flores
brancas e naturais
Ornavam
a bela Maria
Um
beleza celeste
Que
há muito tempo não via.
Mas
a emoção divina
Por
pouco tempo durou
Pois,
em outro canto surgiu
Em
seu velho terno de cor
O
noivo Chico da Dosa
Com
os sapatos apertados
Patinando
nos pisantes
Como
pneus atolados.
Se
não se importa o leitor
Agora
vou comparar
A
figura daquele noivo
Que
por muito vou lembrar
Com
sua gravata preta
Da
grossura de cadarço
Com
óculos escuros de plástico
Faltando
no aro um pedaço.
Parecia
o noivo Chico
Um
pacote e arrumação
Cabelo
todo melado
Com
a banha do capão
Mas
olhar muito decente
Ao
contrário do sorriso
De
quem só tinha um dente.
Mas
táva alegre o danado
E
nem ligava pra sorte
Mesmo
com sua cara
Lembrando
a cara da morte
Pois,
o importante pra ele
Era
a celebração
E
disse no meio de todos
Com
grande satisfação
Monsenhor
quero Maria
Traga
aqui a sua benção.
O
tempo tava avançado
E
a cerimonia começou
Ai
ouviu o poeta
A
reza do Monsenhor
E
ficou admirado
Sem
querer acreditava
Que
Monsenhor tava orando
Sem
a ninguém alertar
E
fez até um sermão
Sem
com os presentes brigar.
E
dizia Chico e Maria
Vocês
estão se casando
Não
é certo um de vocês
Fora
do lar se danando
Sejam
amigos de todos
E
dos pobres tenham dó
Se
brigarem alguma vez
Vão
conversar com o Deó.
Sei
que menino aparece
Pois,
é o sustento do amor
Se
algum adoecer
Procurem
Antônio o Doutor
Ele
conversa um bocado
Mas
o nenê não vai ligar
E
o mais importante mesmo
É
seu filho se curar.
Eita
que seboseira
Dona
Chiquinha gritou
Não
respeitam os convidados
Nem
tampouco o Monsenhor
A
coisa vai ficar preta
Já
tou ficando zangada
Pois,
eu nunca vi na vida
Carne
de bode azulado.
Fizeram
a coisa demais
Não
tá havendo um encaixo
Aquela
calça do Chico
Que
parecia fogo em facho
Ela
e o bode da festa
Botaram
no mesmo tacho.
Foi
na agoniação das muiés
Na
lenga, lenga danada
A
carne do luduvico
Também
saiu azulada.
Veio
ai o inesperado
E
todos puderam ver
O
noivo Chico da Dosa
Começou
a se torcer
E
sem licença pedir
Ele
resolveu partir
E
começou a correr.
Monsenhor
muito educado
Era
caso de esperar
Até
que com meia hora
Resolveu
o noivo voltar
A
catinga lhe acompanhava
E
uma coisa que azulava
Escorria
no calcanhar.
Monsenhor
foi educado
Pois,
era necessidade
Sendo
ele homem puro
Despido
de vaidade
Uniu
mas fez um juramento
De
só fazer casamento
Na
Igreja da cidade.