quarta-feira, 2 de maio de 2018


CASAMENTO NO SERTÃO

Faz tanto tempo que eu não sei bem o que escrevi, como também não sei a regra usado para o cordel, acho que não tem estilo, mas existe alguma musicalidade, tendo também com certeza uma  Influência de CUNFISSÃO DE CABÔCO, claro que sem de longe parecer, pois quem sofre  Influência é porque está bem atrás daquilo que foi influenciado.

Foi um dia de são nunca
Foi um dia do senhor
Foi uma festa de arromba
Lá na casa do Antenor
Era que naquele dia
Com festança e bebedeira
Ia se casar Maria
Fulor daquela ribeira
Morena forte e dengosa
Que ia realizar a introsa
Com o cabra Chico da Dosa.

Morreu boi, morreu galinha
Pato, peru e um capão
Mataram inté Ludovico
O bode de instimação.

Avia! Anda ligeiro
Perguntava seu Antenor
Lavaram aquele urinor
Que é pro Santo Monsenhor?

Era na realidade
Uma grande confusão
Pouca gente se entendia
Lá naquela ocasião
Mas era muito alegria
Pois, todo povo sabia
Que ia se casar Maria.

Josefa a dona da casa
Lutava gritando a fia
Me ajuda com esta panela
Traz a lenha atiça o fogo
Se não a panela esfria.

La fora bem o aceiro
Armaram toda bebida
Aluá, garapa doida
E uma tal de batida
Cachaça, conhaque e cinzando
E inté um vim de mesa
Pra agradar qualquer fulano.

Chico da Dosa já no pulume
Pulava pra todo lado
Apertava a mão de um
Com outro sai abraçado
E feliz ele dizia
Todo prosa e humorado
Ah! Meu povo que alegria
Como é bom ser de Maria.

Já fazia muito tempo
Tá o sol já levantado
E tudo estava no prume
Prume casamento esperado
Pois, comida e bebida
Era coisa pra doutor
E a fartura ali reinava
Na casa do Antenor.

Muié pelo amor de Deus
Deixa de agoniação
Cumpade Chico não custa
Com sua esfamiação
Vem ité a aleijadinha
Em rima do caminhão.

Ouvi inté falar por ai
Que vem um tal de culetor (Gildo Pai do Tenório)
Das bandas do Tamboril
E que canta com muito amor
E recita muito bem
E dizem até que é Doutor.

Mais gente  vinha chegando
E o terreiro foi se alargando
E reinava confusão
Na passagem do corredor
E a alegria que era grande
De repente esfriou
Quando o Pugão já melado
Gritou a todo vapor
Minha gente já tá tarde
E não chega o Monsenhor.

Antenor, Zefa e Chico da Dosa
Olharam um para outro
Sem saber o que dizer
 E se o Padre não viesse
Pro casamento fazer
E agora pensava o Chico
Mas foi só um pensamento
Pois, Maria era descente
Não era justo querer!

Tenho certeza Zefinha
Disse a irmã Maria Rosário
Foi o diacho daquele burro
Quer derrubou seu vigário
Também o Antenor é doido
De mandar aquele animal
Que se acoa no terreio
E pula qualquer quintal.

Ai! Meu Deus coitado dele
E com certeza vai zangar
E vai dizer no sermão
Que foi só pra chatiar
Aquele burro danisco
Pru mode lhe derrubar.

Parecia bicho em bicheira
As cabeças espiando pro caminho
Até a noiva Maria
Promessa já tinha feito
E de oi oiava o Chico
Cuma quem tá sem jeito
Será! E tudo desfeito?

Antenor não tinha estambo
Pra aguentar tal falaça
Por isso foi no boteco
E sem qualquer embaraça
Meteu três tiros nos peitos
Da pura e braba cachaça.

Inté a dona Zefinha
Que era pia e rezadeira
Arregaçõu um cinzano
Por riba da cabeceira
Meteu de goela adento
Tossiu e disse num tento
Tenha calma minha gente.

Pois, não é que dona Zefa
Estava com a razão
Apontou lá no Horizonte
Duas burras e um alasão
E de longe reconheceram
O monsenhor Capelão.

Ai sim via alegria
Que há muito tempo eu não via
E aproveitando o momento
Que todos não espiavam
Chico abraçou Maria
E dona Zefa correu
E pasta foi comer
Pra quando tomar a benção ao padre
O bafo não aparecer.

fizeram ligeira a roda
Para o Padre receber
Os foguetes pipocavam
De fazer velho tremer
E o Monsenhor sorridente
Acenava com a mão
Aberto numa pureza
Ao lado do sacristão.

Bom dia dona Zefinha
Como vai seu Antenor
Cadê os noivos da casa
Pra apresentar meu louvor?

Maria avia vem logo
O Monsenhor quer te ver
Trás  madrinha Socorro Paiva
Pro mode ele conhecer.

Anda logo menina
Deixa de barafusa
O povo tá com fome
Olha a cara do Cazuza.

O arta apreparado
Infeitado de fulor
Monsenhor olhou e disse
Que belo seu Antenor!

Minha gente tá na hora
De fazer o ajuntamento
Chamem os noivo pro altar
Pra fazer o juramento.

E foi  ai que o poeta
Chorou no verso a emoção
Subiu a serra das fadas
E se deitou num coração
Cantou o amor que via
Na pureza de uma mãe
Regeu o coro dos anjos
Pra entrada de Maria.

Vinha linda que beleza
Montada em raio de esplendor
Tal qual acordes de lira
Da orquestra do Senhor.

Flores brancas e naturais
Ornavam a bela Maria
Um beleza celeste
Que há muito tempo não via.

Mas a emoção divina
Por pouco tempo durou
Pois, em outro canto surgiu
Em seu velho terno de cor
O noivo Chico da Dosa
Com os sapatos apertados
Patinando nos pisantes
Como pneus atolados.

Se não se importa o leitor
Agora vou comparar
A figura daquele noivo
Que por muito vou lembrar
Com sua gravata preta
Da grossura de cadarço
Com óculos escuros de plástico
Faltando no aro um pedaço.

Parecia o noivo Chico
Um pacote e arrumação
Cabelo todo melado
Com a banha do capão
Mas olhar muito decente
Ao contrário do sorriso
De quem só tinha um dente.

Mas táva alegre o danado
E nem ligava pra sorte
Mesmo com sua cara
Lembrando a cara da morte
Pois, o importante pra ele
Era a celebração
E disse no meio de todos
Com grande satisfação
Monsenhor quero Maria
Traga aqui a sua benção.

O tempo tava avançado
E a cerimonia começou
Ai ouviu o poeta
A reza do Monsenhor
E ficou admirado
Sem querer acreditava
Que Monsenhor tava orando
Sem a ninguém alertar
E fez até um sermão
Sem com os presentes brigar.

E dizia Chico e Maria
Vocês estão se casando
Não é certo um de vocês
Fora do lar se danando
Sejam amigos de todos
E dos pobres tenham dó
Se brigarem alguma vez
Vão conversar com o Deó.

Sei que menino aparece
Pois, é o sustento do amor
Se  algum adoecer
Procurem Antônio o Doutor
Ele conversa um bocado
Mas o nenê não vai ligar
E o mais importante mesmo
É seu filho se curar.

Eita que seboseira
Dona Chiquinha gritou
Não respeitam os convidados
Nem tampouco o Monsenhor
A coisa vai ficar preta
Já tou ficando zangada
Pois, eu  nunca vi na vida
Carne de bode azulado.

Fizeram a coisa demais
Não tá  havendo um encaixo
Aquela calça do Chico
Que parecia fogo em facho
Ela e o bode da festa
Botaram no mesmo tacho.

Foi  na agoniação das muiés
Na lenga,  lenga danada
A carne do luduvico
Também saiu azulada.

Veio ai o inesperado
E todos puderam ver
O noivo Chico da Dosa
Começou a se torcer
E sem licença pedir
Ele resolveu partir
E começou a correr.

Monsenhor muito educado
Era caso de esperar
Até que com meia hora
Resolveu o noivo voltar
A catinga lhe acompanhava
E uma coisa que azulava
Escorria no calcanhar.

Monsenhor foi educado
Pois, era necessidade
Sendo ele  homem puro
Despido de vaidade
Uniu mas fez um juramento
De só fazer casamento
Na Igreja da cidade.









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