segunda-feira, 30 de maio de 2011

NOSSA SENHORA, MENINO JESUS E O VAQUEIRO


NOSSA SENHORA, MENINO JESUS E O VAQUEIRO.





A religiosidade do vaqueiro nordestino ela é tão grande que pode ser comparada à mitologia grega, onde havia a crença em deuses que podiam realizar toda espécie de proezas. Deuses com força descomunal, deus do trovão, da bebida, dos mares etc. Existe, porém a grande diferença, é que o nosso vaqueiro acredita no Deus verdadeiro e numa Santa, que é nossa Senhora, sendo por esta razão que resolvi contar para vocês uma história que muito tem a ver com a crença de nosso vaqueiro.

1958, o céu não ficou azul e nem os coriscos riscaram o espaço, não se ouviu o pai da coalhada. Na maioria das chaminés não havia fumaça. Para que o fogo? Nada havia para cozinhar. Mulheres raquíticas e olhar bicando o nascente como se dele viesse à salvação para a sua família, ou do João chegasse alguma carta e dentro dela contendo trocados para comprar um pouco de feijão e farinha para o alimento de pelo menos uma vez por dia. Local distante da sede do Município, Sr. Antonio, velho vaqueiro esperto e aboiador, lutava contra a seca para que sua esposa, seus três filhos e quatro gadinhos que ainda era possuidor não viessem a morrer, somente não lhe faltando a água, pois, o olho d’água da graúna era o suficiente para matar sua sede, da família e dos quatro animais. Era uma luta diurna e noturna, onde ele corria atrás de alguma rama de jucá, juazeiro, folha caída do mororó, feijão brabo e até casca de algumas árvores, mandacaru e xixique, para não deixar os urubus fazerem banquete do que restava de seus animais. Na maioria das vezes, Sr. Antonio, dormia pastorando os animais com receio de que uma onça faminta não os matasse, como de outra feita já havia ocorrido naquela região. Todo o dia era a mesma lenga - lenga, isto na companhia de “mimoso”, seu cavala preto, que para ser mais exato já era mais “magroso” do que mimoso, mas um grande companheiro e ainda mantinha a cabeça erguida e mesmo com sacrifício conduzia seu dono a todos os locais do pequeno lugar onde morava. Dona Quitéria, esposa de Sr. Antonio, devotos fervorosos de Maria e Menino Jesus, não esqueciam e até com muita alegria rezavam todos os dias, como se fosse uma família farta, e para as orações reuniam toda a sua pequena família e até o cavala mimoso fechava os olhos naquela hora, como se estivesse fazendo também uma súplica ao ser maior. Certo dia, Sr. Antonio, quando saia no morrer do sol para vigiar seus animais, levando como merenda um quarto de rapadura e um punhado de farinha. Antes de se embrenhar pela estrada da serra onde levava ao olho d’água, encontra em seu caminho uma senhora, magra, roupa rasgada, sentada ao lado de uma criança que também apresentava as mesmas características, embora no seu olhar não houvesse tristeza e fosse muito bonito. Ela cumprimentou Sr. Antonio ainda com uma boa tarde e disse que estava se dirigindo ao Distrito chamado de Catunda, para ficar em companhia de alguns, mas estava temerosa de não chegar, tamanha era a fome e a de seu filho, pois naquele momento somente restava um pouco de água. Sr. Antonio, não pensou duas vezes e ofereceu a senhora o desjejum daquela cansativa noite na vigilância de seus animais. Desejou à senhora sorte e a companhia de Maria e Menino Jesus em que tudo confiava. Quando, já quase escuro se aproximava do local onde se encontravam os seus quatro animais, o cavalo mimoso se assusta e tenta pular para um lado, mas já era tarde, havia sido picado por uma enorme cobra cascavel, que de imediato se embrenhou por entre as locas das pedras.   Sr. Antonio, já havia recebido muitos golpes na vida, pela situação que vivia juntamente com sua família, mas aquele era certamente o maior. O sol já estava nos braços da noite e agora era ela quem mandava. Sr. Antonio, mais que depressa, mas sem saber o que fazer vendo o seu cavalo agonizante e já deitado ao solo, consegue fazer um fogo, mas sem ação fica apenas olhando seu companheiro de tantos e tantos anos deixá-lo daquela maneira, mas dentro de seu coração misturado as lágrimas que brilhavam na centelha do fogo, ele encontrou a certeza de que Maria e o Menino Jesus, protetores de sua família iriam arranjar uma solução para o que ele estava passando. E assim quando mais uma vez olha seu cavalo já quase sem movimentos e olhos fechado, o céu se abre numa luz, Sr. Antonio, fica completamente atordoado, mas uma voz já conhecida é ouvida: “calma Antonio, a única comida que você tinha hoje para matar a sua fome, você ofereceu a mim e ao meu filho, por isto eu estou aqui para dizer que o seu cavalo, mimoso, não está doente, ele apenas dorme, pode chamá-lo e continuar sua viagem”. De repente ouviu-se um relincho e o cavalo mimoso levantou-se como se nada tivesse acontecido. Seu Antonio ainda pode ver ao longe a enorme cascavel que havia mordido o seu cavalo. A cobra lentamente foi se transformando em um anjo e subindo ao céu. Agradecer a senhora não foi possível, pois ela e seu filho haviam como por encanto desaparecidos, tendo ficado no ar apenas o cheiro de flores e mais ao lado o saco com a merenda da noite do Sr. Antonio. DIA SEGUINTE JÁ 1959 A CHUVA COMEÇOU A CAIR.

P.S. * Quem ler sem tremer a voz ganha mil reais.rsrrsrsrsrsr.
Machado.

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